Suas ações usam o planejamento criado? Começo esse artigo com uma ligeira provocação para quem o está lendo. Quando o planejamento é aprovado pelo cliente, ele vira um item a mais na pasta no servidor da agência daquele cliente, ou você usa ele para seguir o que foi planejado?
Vou contar um pouco da minha experiência como profissional de planejamento com mais de 17 anos de experiência nessa área, passando por diversas agências: A resposta é não! Isso ocorre, infelizmente em muitos casos, é parte do planejamento também analisar a comunicação das marcas para saber se estão, ou não, seguindo aquilo que foi planejado e aprovado pelo cliente.
O primeiro passo do planejamento, depois do “OK” do cliente é: Suas ações usam o planejamento criado?
O criativo pelo menos leu a sua apresentação? A mídia usou para segmentar? Time de Redes Sociais leu o arquétipo e tom de voz?
O cliente tem um problema! E ele sempre o tem vários problemas! O atendimento pega o brief com esse cliente, passa para o time da agência. Enquanto todos pensam em qual mídia será usada, o único ser a pensar na estratégia é o coitado, ou coitada, do planejamento.
Ele(a) vai estudar o mercado, vai ler pilhas de relatórios, vai pesquisar sobre a concorrência, analisar a comunicação das marcas, entender o perfil de público, pensar na melhor estratégia, entender os atributos e diferenciais da marca, pensar no posicionamento da marca, no que faz sentido – ou não – nas conexões emocionais, nos arquétipos e tudo mais que está em volta da tríade: Consumidor – Marca – Inovação.
O planejamento é o único que se preocupa mesmo com a comunicação e não com a mídia ou a ideia. Uma boa ideia é uma consequência de uma boa estratégia.
Em paralelo, o departamento de mídia está negociando com os portais, o pessoal de Redes Sociais já está “surtando” com o cronograma de posts, o atendimento com o cabelo em pé para organizar tudo e a dupla de criação pesquisando referências e criando alguns esboços das campanhas.
O mundo ideal – aquele que aprendemos na faculdade e colocamos no TCC – todas as áreas se falam. No mundo da vida real, cada um vai para o seu canto, faz o seu trabalho e quando for o dia da apresentação cliente, estão tranquilos, porque alguém vai ter que organizar tudo em uma apresentação que esteja linda para o cliente aprovar.
E é nesse momento que se lembram que existe um perfil chamado planejamento dentro da agência, pois é ele, ou ela, que vai montar a apresentação, seguindo todo o estilo que a criação da agência montou, o famoso “guide” da agência ou “template padrão”. Nada contra, deixando claro.
Suas ações usam o planejamento criado?
Reforço. Todos no time precisam estar confortáveis.
Ideal é na apresentação ao cliente, todos estarem, mas eu avalio que uma apresentação prévia – ou mesmo envio com antecedência – ajuda. Isso normalmente ocorre, pois o criativo precisa do planejamento para saber por onde seguir, mas nem todos leem com atenção devida.
Passada essa loucura, de montar a campanha, a apresentação é feita para o cliente. Normalmente ele aprova quase tudo, elogia o trabalho e a dedicação, mas pede uma ou outra alteração. As vezes, o cliente, não gosta da cara do modelo que a criação usou no layout, mas a resposta padrão está pronta “só marcação de layout”.
O cliente, durante a apresentação, sempre discorda de algum dado que o planejamento levantou, que defende dando a fonte e fica tudo certo. O cliente, sempre acha que o CPC está caro, sem ter o menor parâmetro para essa definição, mas no fim passa tudo e a campanha está pronta para rodar. No máximo, alguns pontos para arrumar, mas em 2 ou 3 dias, o atendimento mandará tudo para o cliente, por email mesmo, ou os mais modernos, pelo grupo do WhatsApp.
O time da agência sai do cliente e vai até aquela lanchonete deliciosa que tem perto da sede do cliente, comemoram, voltam para a agência felizes, pois está tudo aprovado. Que alegria! Se for uma 6a feira então, ali mesmo, o dia acaba! É mais responder uns emails e fim do expediente com direito a “sextouuuuuu” em seus perfis pessoais – e no da agência – nas Redes Sociais.
Agora vem o problema. A campanha não era de uma simples ação de Dia dos Pais ou Natal, era uma campanha de 6 meses de fortalecimento de marca e vendas constantes. O calendário está pronto, a mídia está estimada, o conceito aprovado.
Agora é hora da execução e é nesse momento que o planejamento está em outro projeto e mal tem tempo para olhar o que está sendo feito. Nesse momento que as métricas ficam apenas com a mídia, o criativos começam a construir as peças, time de Redes Sociais começa a postar e patrocinar, olhando métricas de uma forma superficial de alguma ferramenta e mais preocupados com likes do que com negócios.
Fim do mês, aquela loucura de organizar as informações, porque o cliente ligou para o atendimento cobrando a reunião mensal de relatórios. Todo mundo puxando relatório de tudo que é ferramenta de mensuração. Lá no canto, tem uma pessoa do planejamento. E é ele, ou ela, que vai montar a apresentação e apresentar para o cliente.
Chega o dia da apresentação. O cliente não está com cara de “bons amigos”. Um mês antes, o planejamento apresentou um mundo lindo, cor de rosas, mas o financeiro está mostrando uma cor mais para o vermelho.
O cliente pressionado pela alta diretoria. O time de mídia com o discurso pronto, começo de campanha, demora para acertar. Os criativos dizendo que as peças estão sendo revisadas e estudadas, mostram referências do mundo inteiro. Redes Sociais mostrando os likes como troféus!
O planejamento, pego de surpresa, vai apresentando dados, resultados e a cada porrada do cliente, apenas olha assustado implorando a ajuda de alguém, o atendimento, único que tenta, sem sucesso. O cliente está muito bravo.
Voltam todos para a agência. Esquece a lanchonete, trabalho será pesado e não tem clima. Então o planejamento, na volta dentro do carro, resolve falar e pergunta porque alguns apelos de marca, diferenciais, posicionamento, atributos não foram usados nas campanhas como ele, ou ela, havia defendido. Silêncio toma conta do carro, o clima não está nada bom e ainda vem cobrança?
Primeiro passo dos times? Pedir ao atendimento para enviar novamente o planejamento. Nossa! Que milagre! Estava tudo ali, desde o começo!
O cliente aprovou aquilo, foram horas dedicadas a pesquisa, a dados, a insights. Por que a criação não viu? Por que a segmentação da mídia não focou tanto naquele perfil? Por que o time de Redes Sociais não se ateve? Por que o atendimento não abriu o planejamento foi conferindo as campanhas entre o planejado e o entregue?
Esse, meus amigos, é um dos grandes mistérios que rondam as agências de propaganda…
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